quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Lizard blood

Meus avós estão na sala, acompanhando a retirada dos mineiros compatriotas, presos na claustrofóbica mina de San José, há mais de dois meses. Estico as pernas e acompanho com os ouvidos - uma cobertura digna de Oscar. Finalmente, décadas de trabalho duro e mal pago são recompensados após um desastre que poderia ser fatal. A idéia para o filme já está lançada, enquanto presidentes de todas as partes do mundo fazem suas ligações para desejarem frases retóricas de "boa sorte" que aparecem de hora em hora no rodapé da CNN, redes de lojas fazem suas doações, o Guinness book anuncia recorde de sobrevivência debaixo da terra, e o governo providência fartos upgrades no nível de vida destes bravos cidadãos. Estou satisfeita. A indústria do entretenimento não poupa esforços para agradar seus consumidores. E para apaziguar os rebelados, a política se encarrega da 'reforma social de nicho'.

Todos estão felizes. Só fico imaginando o que será dos outros mineiros que não sofreram acidentes que chocaram o mundo. O que não será... claro.
Mas essa preocupação passa, assim que o filme for lançado passa.

4 comentários:

Lúcia Safi disse...

E eu fico pensando nos mineiros chineses, que nem ao menos têm tentativa de resgaste, é desabou-morreu.

Martini disse...

mas é tão bonita essa união em nível mundial em prol da vida daqueles mineiros, que ninguém pensa que existem outros mineiros no mundo.

é esse o papel da mídia, não é?

R. Silveira disse...

Meu vô, que era mais grosso que parafuso de trator, trabalhou em mina de carvão e dizia que não queria aquela vida pra ninguém. Que preferia levar bala no Exército do que voltar pra lá. Fico só imaginando...

Martini disse...

bah cara... eu não imagino o que poderia ser... mas imagino o que teu avô deveria ser!